sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O papel do adulto na participação infantil

Faz parte do desenvolvimento das crianças expressarem-se e comunicarem-se sobre o universo que a cercam. Elas realizam este caminho usufruindo de nossa atenção ou não; esta expressão pode ocorrer sempre quando: olham o mundo, desenham, brincam, inclusive quando são desafiadas pela própria vida em sua sobrevivência.

Por isso, pensar no papel do adulto na participação infantil no meu ponto de vista é responder outras questões que antecedem a este item, tais quais: Queremos ouvir o que a criança tem a dizer? Por quê? Pra que? Como?

A participação infantil neste trabalho que pude realizar foi uma questão a priori valorizada pelo adulto responsável pela instituição, ou pelo grupo de crianças.

Foi o adulto que instituiu o espaço e o tempo oficial de escuta e fala infantil. Foi o adulto que demonstrou vontade em ouvir com seriedade a visão e a compreensão das crianças. Aqui já temos uma resposta: a vontade de ouvir as crianças é uma decisão do adulto.

Porque o mesmo tem uma compreensão de criança pensante e ativa que precisa aprender a colocar-se diante dos outros com suas questões. Para desenvolver gradativamente sua potencialidade dialógica e argumentativa e aprender a atuar com respeito e responsabilidade no mundo que lhe desperta interesse.

Para que este exercício tenha a função prioritária de promover o desenvolvimento do diálogo e do pensamento infantil, é necessário que o adulto demonstre seriedade, na escuta, nos esclarecimentos, nos encaminhamentos e problematizações vindas das relações infantis com o mundo.

A vida em sociedade e a participação são processos apreendidos e desenvolvidos pelas crianças nas interações que são estabelecidas por elas. Por isso, faz muita diferença a criança pensar sobre o mundo que vive, sozinha ou sob a tutela e cuidado dos adultos.

Porque em primeiro lugar quando reconhecemos a tutela do adulto sobre a criança, não nos esquivaremos de responsabilidades sobre seu aprendizado e desenvolvimento. Por exemplo:

Para desenvolvermos uma atitude participativa, precisamos desenvolver uma atitude generosa de escuta e respeito às diferenças. Esta base é aprendida, não nasce pronta, ela é resultado de um longo processo de interação e significação de valores (no caso a generosidade no diálogo). Quando a ciência da condição de sujeito tutelado da criança é uma premissa, temos simultaneamente a ciência de que é o adulto o seu tutor, portanto, caberá a ele esta arte de ensinar tal postura e valor.

Aqui no meu entendimento reside o desafio do adulto. O COMO. Como ser um tutor da criança sem que ela seja sufocada, aniquilada, mas protegida, potencializada em seu desenvolvimento? Como promover a participação infantil entendendo-a como um processo de aprendizagem?

É condição prioritária que conheçamos o processo de desenvolvimento infantil, para que possamos ter hipóteses dos interesses e vontades condizentes à necessidade da criança. Este conhecimento tão valioso poderá promover a justa medida no desempenho infantil. Garantindo que a criança tenha um diálogo com o mundo que a cerca de forma mais eqüitativa e no alcance de seus anseios.

Também precisamos desenvolver a confiança e o sentimento de pertencimento para um trabalho de aprendizagem de participação. Porque o exercício de expor-se é mais efetivo quando confiamos no grupo a que pertencemos. Para aprender a participar, esta é uma condição importante da qual o adulto é responsável em implantar.

Na relação com as crianças, este sentimento se inaugura de forma bastante prática e simples.

Como fazemos isso? Em primeiro lugar cabe ao adulto mostrar a seriedade com que ele se relaciona com o grupo de crianças. Uma vez estabelecida à rotina de encontro e trabalho, esta não pode ser alterada sem que haja o conhecimento prévio do grupo de crianças.

Ou caso seja marcado um encontro, este tem que acontecer. Se tiver que ser alterado deverá ser alterado antecipadamente em comum acordo com as crianças.

Por detrás deste sentimento de confiança e pertencimento está a autonomia. Porque ninguém é autônomo do nada. A autonomia é sempre uma conquista de relação. Torna-se autônomo em relação a algo ou a alguém. Neste caso, pertencer e confiar são alicerces da autonomia.

Se a criança pode contar com um adulto que lhe conhece em seu processo de desenvolvimento, que lhe propicia tarefas e desafios ao seu alcance e que lhe fortalece em seu desenvolvimento de pensamento, diálogo e argumentação e esta atitude não seja um evento, mas uma prática cotidiana, ela terá condições propícias para uma atuação participativa.

Texto de Rosana Padial, do Instituto Ambar

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