sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Música e o Jogo no Jogo da Aprendizagem (1)

Lembro-me, ainda hoje, das músicas que eram cantadas no jardim de infância. Para cada atividade tinha uma musiquinha, o som e o ritmo da obediência eram ditados através da harmonia e da cadência imposta pelo olhar e pelo gesto da professora.

“Quem vai chegando vai ficando atrás, menino educado é assim que faz”. Assim, a fila era formada com um pegando no ombro do outro para não se perder e, acima de tudo, para a professora não perder a autoridade. Ninguém discutia nem sequer imaginava uma outra forma de se deslocar no espaço da escola. Já estava tudo determinado para garantir a “disciplina”. E quando a turma chegava era cantada a música do “BOM DIA” e todos tinham que se abraçar. Era uma festa! Uma festa organizada para celebrar a obediência. Até para lanchar cantavam-se três músicas: uma para lavar as mãos, uma para o lanche e, por fim, para arrumar a sacola.

Tinha música para saudar um visitante e para outras situações. Momentos criados pelos “educadores” para que, ao som da música, se estabelecesse um comportamento de ajuste a um modelo de sociedade que determina que as coisas devem ser como são ou estar como estão e, por isso mesmo, não cabe lugar à formação consciente de pessoas que possam modificá-las.

É comum ver-se nos curso de formação de professores e nos encontros pedagógicos uma preocupação exagerada no aprendizado de mais uma música, principalmente para datas comemorativas pois, desta forma, se comemora cantando sem ao menos questionar a validade de tal ato. Devido a isto, as músicas que são produzidas e cantadas na escola se afastam, cada vez mais, da realidade social, não permitindo à criança refletir sobre as atividades a serem feitas com e através do seu corpo.

A infância é um momento de constantes descobertas e conhecimentos do corpo, através dos movimentos. Segundo Diem (1980) “aprender é fruto da experiência. Cada progresso no aprendizado é pré-requisito para a aquisição de novas noções”. Portanto, se a ação pedagógica limita a troca de experiência em nome da disciplina, perde-se um universo de oportunidades de criação e descobertas.

Neste sentido, Levy (1985) reforça, ainda mais, essa necessidade de possibilitar descobertas quando refere-se aos primeiros anos de vida, denominando esta fase como de descobertas do corpo na exploração do espaço, de explosão motora e numa inspiração entusiasmada diz: “ninguém duvida de que o primeiro astronauta, ao por o pé na lua, tenha conhecido um momento de intensa alegria. Guardadas as devidas proporções, cada criança vive um momento semelhante quando conseguir se deslocar sem a ajuda de outra pessoa”.

Um comentário:

Carol Garcia disse...

Ao ler esse texto, voltei à minha infância. Aquelas músicas realmente ficaram na memória! Engraçado, eu já tinha parado pra pensar nessas canções, em especial a da fila ("Quem vai chegando, vai ficando atrás/Menino educado, é assim que faz"). É tão hipócrita ver as crianças cantando essa música e entrando na fila! Pois a música é um disfarce, uma maquiagem para a autoridade não é mesmo? Fico me perguntando qual é a fronteira entre essa autoridade e a necessidade de impor limites à criança, já que ela também precisa deles para crescer e aprender a conviver em sociedade. É claro que músicas como essa não são o caminho. A conversa, o diálogo, explicar à criança porque é importante que ela fique com seus colegas organizada em fila, isso sim pode proporcionar um grupo mais participativo na escola. O mais immportante é escutar o que a criança acha dessa atitude e de todas as outras colocadas nos espaços em que ela convive, como escola e família. "Por que eu preciso obedecer?"; deve a criança se perguntar. E a ela deve ser dado espaço para se fazer essa pergunta. Acho que a grande diferença está aí: em fazer a criança entender a importância de todas essas regras.